CERCO CHOREOGRÁFICO
ÂMBARGRIS - Ocupação Cerco Choreográfico
1. Extração da Raiz Infinita da Dança
2. Homem-raiz
3. Observatório de Políticas para Dança
4. Laboratório Gráfico
5. Dança-tempo-público: Ocupação Virtual de Luz
6. Poet-Com: Das Jubartes
Cerco Choreográfico é uma plataforma de produção em arte. A idéia de "cerco" surgiu do seminário do sub-comandante Marcos intitulado: "Nem no centro, nem na periferia" e em nossa nomenclatura tem o significado do ato coreográfico que não estabelece limites estáticos, com uma meta de observar, criar e sublinhar a dança nas relações entre Arte, Urbanismo e Política.

Grafamos "choreográfico" com "ch" como indicativo da escavação das raízes "chorus" e "chorea", que evocam as idéias de coletividade e circularidade no ato da dança.
Âmbargris - Ocupação Cerco Choreográfico é uma residência artística em forma de ocupação da Sala Renée Gumiel no complexo da Funarte em São Paulo durante o ano de 2014. A ocupação realiza: 1. um programa de apresentações de danças (de quarta a domingo); e 2. um programa de aulas de dança (de segunda a sábado) a partir de um pensamento artístico.

Consoante a idéia de observar, criar e sublinhar a dança nas relações entre Arte, Urbanismo e Política, simultâneo ao programas de aulas e apresentações, a ocupação realiza: 3. mapeamento e um seminário sobre a dança em São Paulo; e um 4. laboratório gráfico de tradução da dança em imagem e texto.

Aquilo que é produzido nas relações entre todas ações que compreendem a ocupação será tornado público através de: 5. um espaço virtual; e 6. um veículo impresso que nomeamos de Poet-Com, cuja meta é a inter-dependência entre poesia e comunicação.




Nomes das ações-estruturantes da ocupação:
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1. Extração da Raiz Infinita da Dança
O programa de apresentações de danças é organizado segundo a seguinte estrutura:

- Quarta-feira: apresentações de danças com duração entre 3 e 10 minutos, juntando obras de diferentes culturas e momentos históricos, incluindo estudantes e amadores;

- Quinta-feira: apresentação de danças que podem incluir a participação do público dançando, no formato de encontros (dança urbana), bailes (danças de salão); e quinzenalmente a apresentação do grupo de improvisação com antigos alunos da Maria Duschenes, sob direção de Cilô Lacava;

- Sexta a Domingo: apresentação de espetáculos.

Durante os meses de julho e agosto estará aberto um chamamento para inscrições de danças para serem apresentadas na ocupação.
O pensamento artístico que nos orienta na seleção dos trabalhos que integram o programa é verbalizado na metáfora: "extração da raiz infinita da dança".

Começamos observando o chão do palco e imaginamo-lo como uma lápide horizontal onde jaz a energia, o impacto e o suor dos artistas de diferentes tempos e geografias. Quando dançamos hoje sobre este chão-lápide estamos sujeitos a esta condição forjada entre passado-presente-futuro em dimensões subjetivas e coletivas. Se entendemos a criação da arte no contexto amplo da cultura, somamos a esta condição uma compreensão de que em cena legitimamos e questionamos valores mais amplos que organizam a própria sociedade. Logo, esta lápide-chão, através do gesto do artista, também condensa toda uma realidade cultural e social.

Quando evocamos a idéia de uma "extração da raiz infinita da dança" fazemos uma alusão a um ato de explodir este chão-lápide como força coreográfica que abre caminho para o acontecimento da dança.

Isso significa que a ação do artista não está confinada a uma perpetuação daquilo que já existiu, nem a uma inovação com coisas que unicamente são novas. Mas como atingir um transe que nos abre uma dimensão e nos dá o poder de explodir este chão-lápide?

Então imaginamos que a quarta-parede invisível que separa o palco do público também absorveu todos suspiros, medos, alegrias, tudo aquilo que secretamente é compartilhado. Magicamente, temos a impressão de que esta parede torna-se translúcida quando artista e público sentem esta opacidade dos tempos perdidos. Parece que quando um ou outro decidem negligenciar isso, ela instantaneamente vira um vazio intransponível.

Desejamos explodir a quarta-parede e o chão-lápide, o palco, o próprio teatro, e desta energia em estados de diferentes qualidades temporais, aquilo que a dança cria, se concretize como realidade.


2. Homem-raiz
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O programa de aulas da ocupação compreende uma dedicação diária ao estudo da dança como um fazer artesanal. Danças de diversos ritmos, contextos históricos e estéticas coreográficas, mas que nas suas sutilezas têm em comum uma pulsação, uma energia biológica, orientada pelo "logus" - lugar e conhecimento - da vida.

Para nós o silêncio é uma imagem do tempo. As aulas são exercícios de compartilhar coletivamente o silêncio, na investigação e no suor, experimentar diversos aspectos do que é a dança como ritualização do tempo.



Esta ação é uma homenagem ao ginseng, a raiz-homem, conhecido por suas propriedades afrodisíacas, estimulantes e boas para o sistema de imunidade. Dizem que para usar o ginseng devemos estar na direção certa, pois ele nos levará ao aprofundamento na direção em que estivermos.



3. Observatório de Políticas para Dança
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O Observatório de Políticas para Dança é um espaço permanente que visa:

a) recolher informações sobre como estão relacionadas as diferentes propostas que fomentam a atividade da dança;

b) discutir as informações recolhidas sob o prisma das relações entre Arte, Urbanismo e Política;

c) tornar públicos os resultados de a) e b) através de documentos, sites, seminários e outros meios que julguemos necessários.


Neste projeto de ocupação o Observatório estará focado em três atividades principais:

1- mapeamento das questões relativas ao fazer da dança do ponto de vista artístico através de formulários que servirão também de chamamento e inscrição de artistas interessados em participar de qualquer uma das atividades da ocupação (em parceria com o Projeto Causa);

2- mapeamento de iniciativas políticas e artísticas já em curso na cidade de São Paulo, através de parcerias e investigações;

3- Realização do seminário SP Choreográfica (em parceria com Ágora Agora, do projeto Terreiro Coreográfico), que quinzenalmente abrigará uma mesa de discussão com convidados e interessados para uma qualificação e aprofundamento do debate em torno de questões pertinentes do nosso cotidiano no meio da dança, em relação com uma visão das influências políticas e urbanísticas. Quinzenalmente a equipe interna do Observatório se encontrará para recolher informações, discutir e elaborar documentos, preparando e avaliando continuamente o Seminário aberto ao público.

4- Publicar as informações, documentos, imagens e áudios, registros da atuação do Observatório.




4. Laboratório Gráfico
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O Laboratório Gráfico destina-se a traduzir situações que acontecem ao longo da ocupação em imagens e textos. Extraimos os significados destas palavras do glossário de Vilém Flusser em Filosofia da Caixa Preta:

Situação: cena onde são significativas as relações entre as coisas e não as coisas mesmas.
Traduzir: mudar de um código para outro, portanto, saltar de um universo a outro.
Ideia: elemento constitutivo da imagem.
Imagem: superfície significativa na qual as idéias se inter-relacionam magicamente.
Magia: existência no espaço-tempo do eterno retorno.
Texto: rasgamento que desfia a superfície das imagens em linhas. Transcodificar o tempo circular em linear, traduzir cenas em processos (surgimento da consciência histórica)

Semanalmente ocorrerá uma oficina de tradução da dança aberta ao público que queira produzir e discutir textos ligados ao universo da ocupação; Paralelamente, existe uma equipe de tradutores permeáveis - poetas, jornalistas, fotógrafos, film-makers e outros, imprimindo seus olhares sobre as situações da ocupação.

Todas estas instâncias serão responsáveis por tornar públicas as situações da ocupação através de diferentes mídias – textual, visual, audiovisual -alimentando os veículos: uma publicação mensal, materiais impressos, o site e as redes sociais.



5. Dança-tempo-público: Ocupação Virtual de Luz
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Dança-tempo-público: ocupação virtual de luz é o nome do espaço virtual de acontecimento da ocupação. Este espaço será criado através de um site que terá um tentáculo no formato de um aplicativo para celular onde estarão:

- divulgadas informações para o público que deseje participar presencialmente das ações da ocupação, como programação de aulas, espetáculos e seminários;

- disponíveis formulários que são as ferramentas de mapeamento do Observatório de Políticas para Dança;

- relacionadas uma série de atividades que propõe uma interação virtual entre o que acontece no espaço físico da Sala, desde programação de espetáculos até mesmo desdobramentos das oficinas de escrita, compartilhamento de registros do laboratório gráfico ou do público que deseje colaborar com estas ações;

- as Gotas de Dança, um espaço de propostas interativas de criações coreográficas e desafios de dança, investigando como estas novas ferramentas tecnológicas podem contribuir para o ato de tornar coletiva a dança.

O aplicativo, em sua primeira edição, será uma versão simplificada do site na qual o público poderá navegar nas listagens de programações da ocupação.



6. Poet-Com: Das Jubartes
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Poet-Com: Das Jubartes é um veículo impresso cuja meta é a inter-dependência entre poesia e comunicação. Sua confecção é resultado da organização do que é produzido no Laboratório Gráfico, Observatório de Políticas Culturais e outros materiais que possam ser criados na Extração da Raiz Infinita da Dança ou na Raiz-homem.

Com publicação impressa mensal o Poet-Com terá um formato de gazeta artitextual da ocupação, tendo uma versão desdobrada no formato de um mural que será criado em três diferentes pontos da cidade em parceria com o projeto Terreyro Coreográfico.
A imagem da dança: âmbargris. Tesouro do mar: excremento de baleia vale uma fortuna! Quando uma baleia macho cachalote come algo que pode perfurar seus órgãos internos ela produz um suco gástrico que a protege. O cocô desta refeição quando fresco tem cheiro de terra. Com o tempo, o cocô boia na superfície do mar e com o tempo, se transforma num perfume maravilhoso. Foi utilizado por diversas culturas na composição de perfume (presente no Chanel n.5), e nas antigas receitas orientais para ganhar força e aumentar a virilidade. Esse cheiro que sentimos na foto do Nijinsky, exalando dança.
A ação do tempo
A ação do tempo - a dança como ritualização do tempo possui um ato coreográfico específico. A nomenclatura de "cerco choreográfico" além de nomear a plataforma de produção nomeia também um ato coreográfico que não estabelece limites estáticos, circunstanciando a ritualização do tempo (através do movimento do humano) em dimensões urbana e política. Um exemplo que ilustra esta idéia pode ser observado no caso dos procedimentos coreográficos que não são definidos por uma intenção artística, como no caso das ocupações dos movimentos populares ou manifestações com multidões de pessoas, quando uma série de interesses de ordem políticos, econômicos e culturais determinam situações em que corpus coreográficos coletivos orquestram a movimentação de um grande número de pessoas. Como signo, fenômeno cuja meta é outro fenômeno, um cerco choreográfico vetoriza o fenêmeno da dança em relação ao fenômeno da imagem de uma situação.
Realizaremos 3 festas-ritos - a primeira na abertura, a segunda no meio e a última no final da ocupação - que serão 3 cercos choreográficos. Se (para Flusser) a imagem é a superfície significativa na qual as idéias se inter-relacionam magicamente; e a magia é a existência no espaço-tempo do eterno retorno, o rito é o comportamento próprio da forma existencial mágica. Na ocupação Âmbargris realizaremos os seguintes cercos relacionados as seguintes imagens de tempo:
Cerco choreográfico n.1 - a imagem da baleia explodida - rito de abertura e iniciação;
Cerco choreográfico n. 2 - a imagem da baleia encalhada - rito de passagem e sacrifício;
Cerco choreográfico n. 3 - a imagem da baleia no mar - rito de inversão e rebelião.

Dança e Coreografia. Este projeto foi contemplado pela Fundação Nacional de Artes – FUNARTE no EDITAL DE OCUPAÇÃO DA SALA RENÉE GUMIEL 2014
11 de agosto de 2014 a 1o de março de 2015
SALA RENÉE GUMIEL - FUNARTE - Endereço: Alameda Nothmann 1058, Campos Elíseos, São Paulo
Estacionamento conveniado na Alameda Nothmann, 1162
CONTATO - contato@ambargris.art.br - tel. 11 94635 1064